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O convite para um jantar em casa de Flores e as misteriosas cartas anónimas em papel verde pálido, escritas em verde escuro, são o ponto de partida que Fernanda Botelho utiliza para nos contar a história da família de Pedro Pedralvas, o Mamute Nosso Coevo, embaixador e escritor.
Do seu primeiro casamento com Salomé, tem uma filha, Rita, a quem o marido chama favinho de mel ou a pérola da minha mulher.
Rita é uma esposa permissiva, doce, frágil, angélica. No entanto, sabe o que quer e como consegui-lo, isto é, sabe “preparar o terreno”, conduzir as coisas, de modo a obter o que deseja.
O seu marido, Carlos Romeira, o Carloto, a quem o casamento resolveu o problema de carências financeiras, trabalho na empresa da família e é artista nas horas vagas. Crê-se, potencialmente, reservado a altos voos: um Manet dominical, acarinhado e subservido pelos deuses do materialismo e do capitalismo, embora, em contrapartida, como represália, por vezes, o rejeitassem as musas.
Carlota, a Lota, é filha do segundo casamento do Mamute com Maria das Dores. Moderna, apressada e desinibida é a “menina querida” do pai.
Há ainda a governanta francesa, Monique, uma espécie de deusa tutelar da casa e da família.
Importante, também, o papel da amiga Rosa Couto e os seus “desconchavos”.
Uma escrita rica, inteligente, divertida, posta ao serviço da crítica social e da caracterização psicológica das personagens, com as suas limitações, dúvidas, incertezas, afectos ou a falta deles.
Fernanda Botelho, o narrador todo-poderoso que afirma:
[…] Porque eu, narrador, personagem, personagem privilegiado, demiurgo, estou aqui, estou lá, estou em todo o lado, ubíquo, universal, não há fronteiras que me bloqueiem as bravatas nem tempo que me desvaneça registos de memória. Sou infinito e eterno. Esvoaço. Esvoaço no conspícuo enredado de cada pessoa em si e das pessoas entre si, insinuo-me nas almas, na profundidade das alcovas, no calor das cozinhas, no silêncio dos gabinetes, para lá das paredes e aquém dos muros, na obscuridade dos salões fechados e nas ruas iluminadas pelo sol vesperal, no dia radioso e na noite sinistra, prosseguindo e perseguindo os meus encantadores bonecos nesta aventura vulgar, que é a de vivermos lado a lado, sem afinal nos conhecermos de uma forma razoável e resolúvel. […] (1)
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(1) O destaque é meu.
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